Longe dos assuntos da aldeia mas sem sair de lá, tudo correu como num verdadeiro Verão imaginado: o sol forte picava os corpos, os banhos no rio refrescavam histórias antigas e a família conhecia-se mais a cada minuto que passava e tinha mais saudades a cada minuto que se perdia e só voltaria no ano seguinte.
Mas no Verão o tempo corre sempre mais depressa do que no Inverno e as nuvens começavam a ser mais rápidas do que o sol que já tropeçava na preguiça. Quando chegou a hora da partida, a Baguette, a Torrada, as Migalhas e o Pão de Leite despediram-se do avô da Baguette, o Pão Ralado, que estava sempre preocupado com qualquer coisa. Primeiro era o caminho que era longo, depois seria a vida deles longe dos pais e depois seria uma aldeia quase vazia durante quase um ano até que seria quase verão quase outra vez mas ainda faltava demais.
Na ruela, o Pão Saloio e a Côdea acenavam sem parar enquanto o carro se preparava para voltar a vencer a estrada, apanhando-a desprevenida no sentido inverso ao da chegada, e o Pão Ralado dava as últimas recomendações para a viagem porque cada curva podia ser uma armadilha e cada recta uma ilusão (como é que a distância mais curta entre dois pontos podia afastar tanto uma família?).
Uns segundos depois e tudo voltou a ser como dantes.
É assim todos os verões na aldeia. Volta-se sempre ao princípio do que somos. E no princípio somos todos pão.
(fim)
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