Todos os anos é a mesma coisa. O vento vai empurrando as nuvens devagarinho para outro lado, o sol espreita cada vez mais intrometido, até que entra mesmo no céu sobre as terras, e os pães que tentam a sorte no estrangeiro começam a chegar às aldeias de origem para visitarem as suas famílias de sempre.
- Ça va, papa?
Perguntou uma Baguette com um nariz empoleirado no orgulho de quem já viu o mundo e uma pronúnica arrevesada de quem esteve muito tempo a fermentar em França.
- Cevada? Então não sabes que somos feitos de trigo? Somos todos à antiga... Ai, como tu mudaste lá fora minha filha!
Respondeu um Pão Saloio ainda fresco, apesar de já ser de muitos ontens atrás, sentado sob o telheiro de uma casinha de pedra equecida 11 meses por ano.
- Trago aqui o meu Torrada. Finalmente conhecem o meu pão-metade! Ele veio conhecer a nossa família e a aldeia.
Continuou a Baguette, agora em português, que era a sua lingua de sempre, para que o pai percebesse, apesar dos soluços de sotaque que atacavam sem que ela conseguisse evitar.
- Ai tão escuro! Esqueceram-se dele no forno? Vou chamar a tua mãe. Côdeaaaaaaaaaa!
Gritava o Pão Saloio para chamar a mulher que apareceu sem sequer responder. A Côdea era tão forreta que nem sequer palavras gastava assim sem mais nem menos. Só em último caso. Quando a mãe Côdea apareceu a Baguette e o Torrada sorriram:
- Temos uma surpresa!
Disseram os dois em coro a apontar para o carro que vinha gasto dos quilómetros que tinha lutado, durante vários dias, com a estrada.
(continua amanhã)
Sem comentários:
Enviar um comentário