segunda-feira, 2 de maio de 2011

PÃOBALALÃO I

Todos os anos é a mesma coisa. O vento vai empurrando as nuvens devagarinho para outro lado, o sol espreita cada vez mais intrometido, até que entra mesmo no céu sobre as terras, e os pães que tentam a sorte no estrangeiro começam a chegar às aldeias de origem para visitarem as suas famílias de sempre.

- Ça va, papa?

Perguntou uma Baguette com um nariz empoleirado no orgulho de quem já viu o mundo e uma pronúnica arrevesada de quem esteve muito tempo a fermentar em França.

- Cevada? Então não sabes que somos feitos de trigo? Somos todos à antiga... Ai, como tu mudaste lá fora minha filha!

Respondeu um Pão Saloio ainda fresco, apesar de já ser de muitos ontens atrás, sentado sob o telheiro de uma casinha de pedra equecida 11 meses por ano.

- Trago aqui o meu Torrada. Finalmente conhecem o meu pão-metade! Ele veio conhecer a nossa família e a aldeia.

Continuou a Baguette, agora em português, que era a sua lingua de sempre, para que o pai percebesse, apesar dos soluços de sotaque que atacavam sem que ela conseguisse evitar.

- Ai tão escuro! Esqueceram-se dele no forno? Vou chamar a tua mãe. Côdeaaaaaaaaaa!

Gritava o Pão Saloio para chamar a mulher que apareceu sem sequer responder. A Côdea era tão forreta que nem sequer palavras gastava assim sem mais nem menos. Só em último caso. Quando a mãe Côdea apareceu a Baguette e o Torrada sorriram:

- Temos uma surpresa!



Disseram os dois em coro a apontar para o carro que vinha gasto dos quilómetros que tinha lutado, durante vários dias, com a estrada. 


(continua amanhã)

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