quinta-feira, 12 de maio de 2011
MÃOS GRANDES
Se eu tivesse mãos grandes pendurava um baloiço no indicador, fazia um bolo gigante que desse para toda a gente repetir, trocava a água do oceano Atlântico com a do Pacífico, escondia um piano para tu adivinhares em que mão estava, agarrava o vento e fazia trânsito de veleiros no rio, mudava a casa de sítio quase todos os dias, com uma mão fazia uma jangada e com outra a vela para tu passeares e andava sempre a fazer o pino só porque era fácil. Se eu tivesse mãos grandes podia fazer muitas coisas mas não podia escondê-las nos bolsos.
sexta-feira, 6 de maio de 2011
O LATIFÚNDIO DOS BICHOS DA SEDA
O Gaspar montou a casa dos seus bichos da seda: uma caixa de sapatos (tamanho 34) forrada a folhas de amoreira. Mas eles não pareciam muito felizes. Achavam a caixa (a casa) muito pequena. E assim passavam o dia e a noite a sonhar com uma caixa de botas (tamanho 45) porque a sua ambição era viverem numa grande quinta.
quinta-feira, 5 de maio de 2011
A ORDEM SEM SENTIDO
Agora admiro o abecedário.
Bocados de boca
Correm na corrente do corredor
Depois de dizerem disparates
Enquanto eu encanto e entretanto
Fico felizmente feliz
Ganhando grandes gotas e gomos.
Hoje há holofotes
Intensamente interessados e intrigados, informo-os:
José Joaquim Jardim Júnior
Labrador que ladra ao lado da ladra,
Meto mesmo muito medo.
Na nuvem de navios do nariz
Onde ontem olhei obtuso
Perdi a parte preta da pata
Que queria que quisesses quente,
Roída, rimada e reduzida.
Se sei sonhar sozinho?
Tento tudo, é tudo tão tentador
Uma unidade única.
Vocês vieram e viram.
Xaile xadrês ou o xilofone do Xico?
Zombo aos ziguezagues no zoo.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
MANIA DAS GRANDEZAS
O porco queria ser mais forte e por isso queria ser javali.
O gato queria ser mais corajoso e por isso queria ser pantera.
O pássaro queria ser mais respeitado e por isso queria ser águia.
O menino queria ser mais forte, corajoso e respeitado e por isso não queria ser homem.
Queria ser menino grande.
O gato queria ser mais corajoso e por isso queria ser pantera.
O pássaro queria ser mais respeitado e por isso queria ser águia.
O menino queria ser mais forte, corajoso e respeitado e por isso não queria ser homem.
Queria ser menino grande.
PÃOBALALÃO III
Longe dos assuntos da aldeia mas sem sair de lá, tudo correu como num verdadeiro Verão imaginado: o sol forte picava os corpos, os banhos no rio refrescavam histórias antigas e a família conhecia-se mais a cada minuto que passava e tinha mais saudades a cada minuto que se perdia e só voltaria no ano seguinte.
Mas no Verão o tempo corre sempre mais depressa do que no Inverno e as nuvens começavam a ser mais rápidas do que o sol que já tropeçava na preguiça. Quando chegou a hora da partida, a Baguette, a Torrada, as Migalhas e o Pão de Leite despediram-se do avô da Baguette, o Pão Ralado, que estava sempre preocupado com qualquer coisa. Primeiro era o caminho que era longo, depois seria a vida deles longe dos pais e depois seria uma aldeia quase vazia durante quase um ano até que seria quase verão quase outra vez mas ainda faltava demais.
Na ruela, o Pão Saloio e a Côdea acenavam sem parar enquanto o carro se preparava para voltar a vencer a estrada, apanhando-a desprevenida no sentido inverso ao da chegada, e o Pão Ralado dava as últimas recomendações para a viagem porque cada curva podia ser uma armadilha e cada recta uma ilusão (como é que a distância mais curta entre dois pontos podia afastar tanto uma família?).
Uns segundos depois e tudo voltou a ser como dantes.
É assim todos os verões na aldeia. Volta-se sempre ao princípio do que somos. E no princípio somos todos pão.
(fim)
Mas no Verão o tempo corre sempre mais depressa do que no Inverno e as nuvens começavam a ser mais rápidas do que o sol que já tropeçava na preguiça. Quando chegou a hora da partida, a Baguette, a Torrada, as Migalhas e o Pão de Leite despediram-se do avô da Baguette, o Pão Ralado, que estava sempre preocupado com qualquer coisa. Primeiro era o caminho que era longo, depois seria a vida deles longe dos pais e depois seria uma aldeia quase vazia durante quase um ano até que seria quase verão quase outra vez mas ainda faltava demais.
Na ruela, o Pão Saloio e a Côdea acenavam sem parar enquanto o carro se preparava para voltar a vencer a estrada, apanhando-a desprevenida no sentido inverso ao da chegada, e o Pão Ralado dava as últimas recomendações para a viagem porque cada curva podia ser uma armadilha e cada recta uma ilusão (como é que a distância mais curta entre dois pontos podia afastar tanto uma família?).
Uns segundos depois e tudo voltou a ser como dantes.
É assim todos os verões na aldeia. Volta-se sempre ao princípio do que somos. E no princípio somos todos pão.
(fim)
terça-feira, 3 de maio de 2011
PÃOBALALÃO II
Dentro do carro estavam as suas Migalhas e o Pão de Leite! As Migalhas eram duas gémeas de 3 anos, pequeninas e envergonhadas, que faziam sons (música?) que se espalhavam pelo ar e eram impossíveis de apanhar ou varrer; o Pão de Leite tinha só uns meses e agarrava o biberon como os velhos agarram a bengala e como os jovens agarram um coração que não é o seu.
- Meus pãezinhos!
Gritou a Côdea, sem sequer dar atenção ao Torrada que nunca tinha visto, num acesso de esbanjamento de palavras que não conseguiu poupar para mais tarde.
- Finalmente conheço-os! De certeza que ainda não são baptizados! Vamos levá-los ao Pão de Deus imediatamente!
Continuou a mãe e avó Côdea. Era a primeira vez que via os netos (e que falava tanto). Nos outros verões a Baguette vinha sempre sozinha e os pãezinhos ficavam com o Torrada porque ainda eram pequenos. Faltava-lhes o fermento do tempo.
A avó Côdea agarrou nos pãezinhos, pô-los num grande cesto e levou-os à Igreja. A missa estava a acabar e encontraram o Papo Seco a descer a escadaria de dois degraus. O Pão Saloio ficou queimado de raiva, quase mais escuro do que o Torrada:o Papo Seco tinha tido uma paixão pela Côdea e, apesar de um casamento bem cozido, o Pão Saloio ainda ardia em ciúmes.
- Meus pãezinhos!
Gritou a Côdea, sem sequer dar atenção ao Torrada que nunca tinha visto, num acesso de esbanjamento de palavras que não conseguiu poupar para mais tarde.
- Finalmente conheço-os! De certeza que ainda não são baptizados! Vamos levá-los ao Pão de Deus imediatamente!
Continuou a mãe e avó Côdea. Era a primeira vez que via os netos (e que falava tanto). Nos outros verões a Baguette vinha sempre sozinha e os pãezinhos ficavam com o Torrada porque ainda eram pequenos. Faltava-lhes o fermento do tempo.
A avó Côdea agarrou nos pãezinhos, pô-los num grande cesto e levou-os à Igreja. A missa estava a acabar e encontraram o Papo Seco a descer a escadaria de dois degraus. O Pão Saloio ficou queimado de raiva, quase mais escuro do que o Torrada:o Papo Seco tinha tido uma paixão pela Côdea e, apesar de um casamento bem cozido, o Pão Saloio ainda ardia em ciúmes.
(Era óbvio para o Papo Seco que o que a Côdea poupava em palavras ele poupava em emoções e seriam quase felizes no silêncio sem sobressaltos. Mas ela tinha ficado perdida de amores pelo míolo genuíno de que o Pão Saloio era feito - porque a Côdea sabia que a verdadeira beleza era a que estava por trás da capa estaladiça de qualquer pão - e assim acabou esta história que nunca começou).
Romances à parte, o Pão de Deus baptizou os pãezinhos que choraram com a água, que mesmo benta era fria, e tinham medo de se transformarem em açorda. O Pão de Ló, que era tão doce que ajudava sempre na missa e atravessava as ruas com as velhinhas que tinham medo das pedras paradas sempre a pregarem partidas aos passos, agarrou logo nos pãezinhos e começou a cantar
- Pãobalalão,
cabeça de cão,
orelhas de gato
e um grande coração,
vai parar ao meio do chão
E fingiu que os deixava cair. Os pãezinhos pararam de chorar, a família estalou a rir e largou lágrimas de farinha. Partiram para casa e no caminho encontraram o Pão de Forma. Era o habitante mais tradicional e quadrado de toda a aldeia e ficou muito admirado com aquela família.
- São todos uns pães de mistura.
Resmungou ele entre a massa que lhe prendia os poucos dentes que lhe restavam mas os outros pães nem lhe ligaram. Sabiam perfeitamente que ele tinha mau miolo e, naquele momento, sentiam-se a mistura da mais pura felicidade. Depois o Pão de Forma passou pelo Pão de Alho e virou-lhe a cara antes que ele conseguisse dizer
- Olá, como está?
Foi muito mal educado mas é que o hálito do Pão de Alho conseguia ser mesmo assustador, por isso conta-se pela aldeia que nunca teve uma namorada e que só fala com outros pães por cartas ou por telefone.
- Pãobalalão,
cabeça de cão,
orelhas de gato
e um grande coração,
vai parar ao meio do chão
E fingiu que os deixava cair. Os pãezinhos pararam de chorar, a família estalou a rir e largou lágrimas de farinha. Partiram para casa e no caminho encontraram o Pão de Forma. Era o habitante mais tradicional e quadrado de toda a aldeia e ficou muito admirado com aquela família.
- São todos uns pães de mistura.
Resmungou ele entre a massa que lhe prendia os poucos dentes que lhe restavam mas os outros pães nem lhe ligaram. Sabiam perfeitamente que ele tinha mau miolo e, naquele momento, sentiam-se a mistura da mais pura felicidade. Depois o Pão de Forma passou pelo Pão de Alho e virou-lhe a cara antes que ele conseguisse dizer
- Olá, como está?
Foi muito mal educado mas é que o hálito do Pão de Alho conseguia ser mesmo assustador, por isso conta-se pela aldeia que nunca teve uma namorada e que só fala com outros pães por cartas ou por telefone.
(continua amanhã)
segunda-feira, 2 de maio de 2011
PÃOBALALÃO I
Todos os anos é a mesma coisa. O vento vai empurrando as nuvens devagarinho para outro lado, o sol espreita cada vez mais intrometido, até que entra mesmo no céu sobre as terras, e os pães que tentam a sorte no estrangeiro começam a chegar às aldeias de origem para visitarem as suas famílias de sempre.
- Ça va, papa?
Perguntou uma Baguette com um nariz empoleirado no orgulho de quem já viu o mundo e uma pronúnica arrevesada de quem esteve muito tempo a fermentar em França.
- Cevada? Então não sabes que somos feitos de trigo? Somos todos à antiga... Ai, como tu mudaste lá fora minha filha!
Respondeu um Pão Saloio ainda fresco, apesar de já ser de muitos ontens atrás, sentado sob o telheiro de uma casinha de pedra equecida 11 meses por ano.
- Trago aqui o meu Torrada. Finalmente conhecem o meu pão-metade! Ele veio conhecer a nossa família e a aldeia.
Continuou a Baguette, agora em português, que era a sua lingua de sempre, para que o pai percebesse, apesar dos soluços de sotaque que atacavam sem que ela conseguisse evitar.
- Ai tão escuro! Esqueceram-se dele no forno? Vou chamar a tua mãe. Côdeaaaaaaaaaa!
Gritava o Pão Saloio para chamar a mulher que apareceu sem sequer responder. A Côdea era tão forreta que nem sequer palavras gastava assim sem mais nem menos. Só em último caso. Quando a mãe Côdea apareceu a Baguette e o Torrada sorriram:
- Temos uma surpresa!
Disseram os dois em coro a apontar para o carro que vinha gasto dos quilómetros que tinha lutado, durante vários dias, com a estrada.
(continua amanhã)
- Ça va, papa?
Perguntou uma Baguette com um nariz empoleirado no orgulho de quem já viu o mundo e uma pronúnica arrevesada de quem esteve muito tempo a fermentar em França.
- Cevada? Então não sabes que somos feitos de trigo? Somos todos à antiga... Ai, como tu mudaste lá fora minha filha!
Respondeu um Pão Saloio ainda fresco, apesar de já ser de muitos ontens atrás, sentado sob o telheiro de uma casinha de pedra equecida 11 meses por ano.
- Trago aqui o meu Torrada. Finalmente conhecem o meu pão-metade! Ele veio conhecer a nossa família e a aldeia.
Continuou a Baguette, agora em português, que era a sua lingua de sempre, para que o pai percebesse, apesar dos soluços de sotaque que atacavam sem que ela conseguisse evitar.
- Ai tão escuro! Esqueceram-se dele no forno? Vou chamar a tua mãe. Côdeaaaaaaaaaa!
Gritava o Pão Saloio para chamar a mulher que apareceu sem sequer responder. A Côdea era tão forreta que nem sequer palavras gastava assim sem mais nem menos. Só em último caso. Quando a mãe Côdea apareceu a Baguette e o Torrada sorriram:
- Temos uma surpresa!
Disseram os dois em coro a apontar para o carro que vinha gasto dos quilómetros que tinha lutado, durante vários dias, com a estrada.
(continua amanhã)
O PEIXE, A FORMIGA E A CENTOPEIA
Diz o peixe:
- Estou triste. A minha namorada deu-me com os pés!
Diz a formiga:
- Impossível! A Lúcia é uma sardinha.
Diz a centopeia:
- Vocês sabem lá o que é dar com os pés!
- Estou triste. A minha namorada deu-me com os pés!
Diz a formiga:
- Impossível! A Lúcia é uma sardinha.
Diz a centopeia:
- Vocês sabem lá o que é dar com os pés!
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