terça-feira, 12 de abril de 2011

BOA NOITE E UMA VÉNIA


 - Pai, és dono do circo?
Todos os anos a Rosa fazia a mesma pergunta quando ia acampar com os seus pais e os seus dois irmãos mais novos, gémeos. 
Todos os anos escolhiam um lugar novo - junto ao rio, no meio da floresta, mesmo a espreitar para a praia ou num monte para ficarem mais perto das estrelas do que do chão - mas o espectáculo era sempre o mesmo. Montavam várias tendas de todas as cores e acendiam uma grande fogueira no meio. A tenda das riscas azuis e amarelas era o quarto dos pais, a tenda cor-de-rosa era, claro, da Rosa, e a tenda verde, castanha e laranja  era dos gémeos.
Como o pai estava sempre muito atarefado a montar as tendas e nunca ouvia à primeira, a Rosa voltava sempre a perguntar:
- Pai, és o dono do circo?
E todos os anos o pai respondia:
- Sou e toca a trabalhar! Diz à mãe para dançar e aos gémeos para rugirem. Pode parecer mas não estamos de férias! O circo tem de funcionar!
- E eu? - perguntava a Rosa.
- Tu tens de atravessar o chão nesta linha sempre a direito.
- Mas eu não vejo nenhuma linha... - respondia a Rosa.
- Por isso é que é tão difícil. Os melhores equilibristas são aqueles que imaginam a linha que mais ninguém consegue ver.
E a Rosa lá ia, pé ante pé, com os braços abertos para se equilibrar com os dois pés num chão interminável mas que lhe parecia mesmo uma corda presa no ar.
No fim da noite, depois de se apagarem todas as luzes e até a fogueira, a Rosa ouvia sempre palmas. E, já no seu saco cama, fazia uma grande vénia para agradecer mais um dia que tinha sido um verdadeiro espectáculo.

Sem comentários:

Enviar um comentário